André Azevedo

Já há muito pensava em construir uma série de fotografias que rondassem um motivo. Sem quaisquer referências para me amparar e com um leque pobre de conhecimentos no que toca à história da fotografia, decidi ainda assim armar-me exclusivamente da minha vontade de construir algo assim para, efetivamente, o construir. Para esta primeira série, Superfícies, escolhi um motivo que me fascina particularmente e que me coloca quase nas nuvens quando o presencio: "bolsos" repetitivos de luz que o Sol produz sobre as superfícies da minha sala e cozinha num curto período de tempo depois do meio-dia e antes do pôr do Sol. Há qualquer coisa de onírico e de calmante nos padrões de luz formados tanto pela luz solar como pelos objetos que a obstruem e que produzem estas belas formas no chão, na madeira da mobília, na carpete, ou na cortina, embora neste trabalho não pretendi refletir com precisão essa experiência que tenho de os ver. Não sei até que ponto estas fotos, manipuladas em computador depois de captadas, são merecedoras do olhar público, mas fica aqui a partilha para mais tarde ver e perceber com maior precisão se isto funciona ou não. Mas há qualquer coisa com a primeira fotografia, tirada com um tempo de exposição relativamente "longo" e enquanto movimentava a câmara (a única foto tirada desta forma), que tem em mim um impacto visceral que as outras fotos não conseguem produzir. Se calhar devo explorar mais o movimento enquanto exploro a abstração.

30 de janeiro de 2023 (editado posteriormente)